quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma poesia escrita com prego

Por Luiz Felipe Garcez

Mais do que resgatar a história das nossas ruas, o projeto "Minha rua tem história" tem feito sérias transformações nos jovens que participam. Além do aumento da auto-estima e da valorização do bairro deles, o projeto é um estímulo ao trabalho em equipe.

Mais do que contar histórias, tem sido proposto aos jovens que as contem de outras formas: música, teatro, poesia e desenho por exemplo. E assim a cidade descobre não apenas a si mesma, mas os seus talentos.

Em Prados Verdes, Carlos, Edna e Fernanda transformaram a história de Edna Gonçalves dos Santos num poema cujas imagens concretas fizeram com que Marcus Vinicius Faustini, secretário municipal de Cultura e Turismo e mentor do "Minha rua tem história", pensasse na aridez de João Cabral de Mello Neto. O nome do poema é “Edna e o Prego”.

“O pedreiro, sozinho a trabalhar

Pedia para Edna ajudar

Ela, prestativa, sempre o ajudava

Enquanto ás vezes ele descansava

Sua ajuda é sempre bem-vinda

Enquanto a obra não se finda

Porém, um dia ela se distraiu

E sua casa quase destruiu

O pedreiro Durval se assustou

Com o curto-circuito que ela causou

A minha rua tem história

E esta fica na memória

Esta história ocorreu em novembro

Mas o dia, esse eu não lembro

Essa história não acabou

Mas minha criatividade SIM.”


terça-feira, 16 de setembro de 2008

O fruto do amor

Por Luiz Felipe Garcez

Já teve história de terror, “apimentada”, comédia e até de mobilização social e como de costume não podia faltar romance. E quem contou essa história foi Luciene Aparecida de Azevedo.

- Em uma bela noite, eu e um rapaz que já gostava de mim há algum tempo, fomos dar uma voltinha pela Praça do Km 32 e sentamos embaixo de uma árvore – contou Luciene bastante emocionada e envergonhada. – Conversa vai, conversa vem, ele me pediu em namoro, mas eu sempre o rejeitei. Depois de muito pensar, acredito que com a ajuda daquela árvore, eu aceitei a namorar com ele e enfim conheci meu grande amor.

Luciene contou que hoje é casada com ele há seis anos, tem um filho de dois anos e são muitos felizes.

- Sempre que passamos em frente a essa árvore, mostramos ao nosso filho, o fruto do nosso amor, onde tudo começou, naquela árvore da Praça do km 32...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Frutos estranhos

Histórias de Prados Verdes mostram o lado bucólico do bairro mais distante de Nova Iguaçu
Por Luiz Felipe Garcez

O projeto "Minha rua tem história", em Prados Verdes, deu os primeiros "filhos". Começou timidamente, com muita desconfiança da parte dos jovens. Afinal, nunca havia acontecido nada parecido com esse projeto por lá. Mas as dinâmicas ministradas pelo oficineiro Mozart Guida e a simpatia dos assistentes Fernando e Elisangêla quebraram o "gelo" e as turmas pegaram o espírito da coisa. O tema "árvore" mostrou que os moradores de Prados Verdes mantêm uma forte ligação com a natureza.

Incontáveis foram as histórias que envolvia misticismo, terror ou fantasmas. Uma delas foi a história da "Figueira que pegava fogo", ambientada na Rua Boninas. Indicada como a melhor história da turma A, ela foi contada por Fernanda Santos, de 21 anos. Essa história aconteceu quando ela era bem pequena e marcou muito sua infância.

- A figueira é uma árvore muito bonita e chamava a atenção de todos – contou Fernanda. – Mas um dia um morador do bairro vizinho resolveu subir na parte mais alta dela e nunca mais desceu.

Segundo Fernanda, os moradores ficaram muito assustados, mas ninguém subiu na figueira para ver o que realmente havia acontecido. No entanto, os moradores perceberam que a árvore não era mais a mesma.

- Todas as noites aparecia uma nuvem escura sobre a figueira e, quando as pessoas passavam pela rua, ouviam um assovio vindo da figueira. Ela tacava pedras e pegava fogo sozinha!

Muitos moradores diziam que a árvore estava amaldiçoada por alguma força maligna, mas essa maldição era noturna, quando as pessoas até evitavam passar pela rua.
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- Mas de dia a figueira não fazia mal a ninguém.

A situação foi até um dia em que a figueira pegou fogo e desabou.

- Ela nunca mais brotou – concluiu Fernanda, com um ar misterioso.

Outra história que fez bastante sucesso, de autoria de Carlos Augusto Soares, foi bem mais apimentada. Ambientada na Rua Narciso, a história se passou em um dia dos pais em que todos os irmãos haviam se reunido em torno de um árvore cujos frutos tinham um formato no mínimo estranho.

- Um dos irmãos achou a fruta parecida com um pinto – disse Carlos Augusto, arrancando risos da turma. – Desde esse dia, passamos a chamar a árvore de "pé de rola do meu pai", já que era no quintal dele.

Histórias foram o que não faltaram. Cada uma com o seu toque especial. Com certeza podemos dizer que as árvores de Prados Verdes têm muita, mas muita história mesmo para contar. Com certeza teremos mais."Expor aos oprimidos a verdade sobre a situação é abrir-lhes o caminho da revolução"Leon Trotsky

domingo, 7 de setembro de 2008

A verdadeira identidade do cagão

O auxiliar de padeiro Thiago Robert, um morador de 21 anos da Rua das Begônias, até tentou esconder dos companheiros da Turma C de Prados Verdes que era ele o “cagão da goiabeira”, personagem do texto que lhe valeu as 10 horas de internet em uma lan house do bairro e um MP4. “Mas o Cristiano sou eu mesmo”, admitiu. A revelação da verdade que todos intuíam só fez aumentar as risadas do grupo, que se divertiu com a história de um adolescente que subiu em uma goiabeira do bairro e, depois de se fartar de goiaba, teve que fazer ali mesmo suas necessidades. A história de Thiago Robert fez tanto sucesso na Turma C, que, além do prêmio, tornou-se tema de uma música composta pelo grupo de amigos que acabou de fazer no Minha Rua Tem História.

Thiago Robert não tinha MP4, mas as horas na lan house vão ser muito mais proveitosas para esse jovem desempregado. “Adoro conversar no MSN e descobrir pessoas no Orkut”, confessa ele, que calcula gastar o prêmio em no máximo três dias. Thiago também usa a internet para ler as notícias sobre o Vasco da Gama, “o melhor time do mundo”. “Outra coisa que eu faço na internet é procurar um emprego de carteira assinada, que eu nunca tive.” Ele entrou no Pro Jovem em busca de uma qualificação profissional que lhe permita alcançar o maior sonho de sua vida. Alcançar esse sonho é um degrau a mais em direção a um outro sonho. “Assim que a vida melhorar um pouco, eu vou estudar administração de empresas.”

Se tudo der certo, muito provavelmente o destino de Thiago será um faculdade particular de Campo Grande, bairro na zona oeste do Rio de Janeiro onde comprou o vistoso par de óculos escuros com que foi à Vila Olímpica na tarde do último sábado. “Prados Verdes está muito mais perto de Campo Grande do que de Nova Iguaçu”, diz ele.